quinta-feira, 22 de julho de 2010
Nostagia Anacronica
Não vivi os anos 60 e 70. Apenas ouço os ruídos de uma época marcada por grandes transformações. Guerra Fria, ditadura militar, tropicalismo, cinema novo, socialismo, guerrilha. Todos esses acontecimentos estão emoldurados nos quadros da História, eu os vejo ao longe, numa época aparentemente distante para mim. Mas confusamente, sinto saudade. Talvez seja pela contradição que vivemos atualmente, pelo niilismo marcadamente presente no individualismo alimentado pela economia de mercado, tônica das políticas de Estado. Falar em socialismo é como encenar uma comédia grega, o tom será sempre do escárnio, ao estilo de Sófocles. Ainda sim, quero ressuscitar o velho douto, o barbudo alemão que dividiu a humanidade, que deu mais ênfase as posições de esquerda, que acreditava numa sociedade da maioria, em uma democracia de direito e não de fachada. Não sei que tipo de mudança está em curso. Não será certamente como ele queria, mas, indubitavelmente, ela virá, de uma maneira ou de outra. É só olhar para os bolsões de miséria que crescem no mundo, principalmente na África. Dos guetos Norte-americanos, das periferias francesas, que recentemente deram seu grito de socorro e de revolta, das favelas dos países ironicamente chamados de emergentes, ou melhor, em desenvolvimento, que assolam a burguesia cansada de violência, e que vão à praia, vestidas de branco, provavelmente de uma grife caríssima, para pedir paz. Como se a paz, fosse uma entidade, que só precisa ser convocada, como se ela não estivesse nos interstícios da marginalização, do descaso, da arrogância e da indiferença dos usurpadores, como se pudéssemos separá-la das mutações de homens e mulheres e por que não, crianças e adolescentes que crescem nas periferias, longe de qualquer relação familiar ou social que conhecemos, alheios as políticas governamentais. Junte-se a tudo isso o desastre ambiental batendo a porta, para fazer coro à orquestra de horror digna de muitos oscars. Não sei o que pensam os que anunciam que o Socialismo acabou, que fazem deboche de revoluções outrora festejadas. Estes, apropriam-se da mídia para passar uma idéia acabada, finda, como um Grande Irmão, fundando os seus ministérios da Guerra, da Paz e, acima de tudo, da Ilusão, ludibriando, atraindo a todos para águas cada vez mais rasas, levando-os para seu ocaso. Estes também se deixaram levar pelo canto das sereias, pois estão não sabem eles que estão no mesmo barco? Ilusão de um sistema deprimente e ultrajante a tudo que se assemelha do humano, a saber, o companheirismo e a coletividade. Diz-se que olhar para o passado é sempre um exercício saudosista, pois, sempre apagamos os momentos ruins da memória. Talvez. Mas certamente o saudosismo que me cerca, reporta para uma época em que se acreditava em mudanças, em ações dos indivíduos por um mundo melhor, mais justo. Sei que tudo isso soa meio romântico e pode até está em descompasso com o mundo em que vivemos, no entanto, quero andar na contramão dos “fatos”, quero ser o que restou da caixa de Pandora, do que acredita numa mudança, quero ser o utópico, o lunático. Tem uma frase conhecida que diz que o sonho é o alimento da alma, pois bem, que o banquete seja servido. Refestelar-me-ei todos os dias, todas as noites. Vou procurar esse ponto de fuga, para onde deve convergir a tela de minha vida.
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