quinta-feira, 22 de julho de 2010

Acordar

Acorda-se de um sobressalto, inquieto.
Alguma coisa a latejar no fundo
Brandindo sem que nem por que
Não são alusões metafísicas
a lhe atormentarem o juízo
Poder-se-ia pensar, em divagações
sobre estética, moral, política, religião,
qualquer nobre causa digna de vigília, ledo engano.
A dor é física, pungente.
Grunhidos irrompem como avisos.
Morte lenta, serena, gradativa, não menos angustiante.
O definhamento do corpo,
ressequido de seiva, de mel, de pão.
Como pensar a condição do homem
sem qualquer condição de pensamento?
A materialidade sobrepondo-se a idéia
O ter como condição para o ser,
a mínima dignidade humana de existência
Como na oração crista:
“O pão nosso de cada dia nos daí hoje”
Eis o recurso precípuo para a lida, a labuta, para o pensar,
Eis a clemência ordinária de todos os dias e de todas as horas.


Lula Dourado 04/12/2007

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