sábado, 5 de março de 2011

Mocinha

O que escrever sobre o sentimento que me cerca acerca de uma pessoa que mal conheci? Que entrou pela janela de trás, escondida dos temores que a assustavam, mas que ao mesmo tempo faziam-na rir em deleite encantado pelo fato de estar vivendo uma aventura fugaz e aparentemente proibida? Quão fantasiosos jogos não passaram ao largo de tardes que cavalgavam sem demora, anunciando a noite que reclamava para si alguém que não podia ser somente minha, havia de ser dividida entre todos os seus caprichos. Mas não hei de reclamar como os egoístas que tudo querem. Eu nem imaginava que as tardes pudessem inventar momentos tão sublimes como se a lua ali estivesse, pois o sol pelo vidro fosco produzia seus encantos, desenhando numa suave penumbra seus contornos em tão dourado esplendor, denunciando seus gestos, olhares e desejos mais lascivos e meigos. E não se sabia onde era o fim e onde era o começo num espaço tão exíguo, em que as convenções sobre como se portar, eram completamente desnecessárias e inúteis. Reinventávamos nosso espaço de uma maneira particular. E ríamos sobre isso e a conversa imprimia seu ritmo e dançávamos entre os cômodos, todos a seu tempo, sem pressa ou lentidão. Cozer era uma atividade perigosa e apaixonante pelo fato de representar tão intima convivência numa relação fadada a sucumbir. É o estigma que me persegue. No fim, contudo, fica a recordação sempre nostálgica sobre o efêmero que se eterniza entre duas vidas tão distintas que se querem reencontrar num futuro próximo, mas incerto. O temor é que o instante tenha passado, que o curso das águas tenha transformado a mim e a ti, e que o que vivemos ficará gravado somente na memória e nessas poucas palavras. Tua presença está impressa numa recordação olfativa que vez ou outra ainda sinto em algum canto da casa

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