Uma noite.
Era uma sexta, passei a tarde tentando
ler ou aprender alguma música, lutando contra o impulso natural da busca pelo
prazer. Fazia planos sobre como deveria me portar nos próximos dias. A recusa
da embriagues era uma delas. Precisava mudar de vida, concretizar projetos. Olho
para o relógio, já é noite. Os sons da cidade entram pela janela, carros, bares,
pessoas. O diabo da imaginação começa a fantasiar coisas que você sabe que não existem.
Todas aquelas pessoas felizes. Faço um esforço titânico para ficar em casa. Me arrisco
nas redes sociais. Pessoas aparentemente mais felizes do que eu postam planos
para a noite, roupas, maquiagens, sorrisos forçados e matizes perfeitas para o
instagran. Me sinto um crápula depressivo por pensar que as pessoas não podem
ser felizes daquela maneira, talvez seja só inveja. Todo o meu ascetismo e disciplina
vão abaixo pelo simples copo de cerveja. Me julgo covarde e fraco, a outra
parte rir e me ignora, sabe que é mais forte. Me empertigo, coloco um som
animado no carro para elevar a autoestima e faço planos, crio involuntariamente a
expectativa. A cidade está fervilhante, bares com som ao vivo, mesas cheias, muito
barulho. Sento-me no balcão e peço uma cerveja. Olho mais detidamente para as
mesas e a maior parte das pessoas esta ao celular, postando suas fotos. Poucas pessoas
então olhando realmente uma para a outra. Paciência, é o mundo. Eu não deveria
ter saído de casa, penso comigo mesmo. Algumas garotas estão sentadas perto de
onde eu estou. Nenhuma delas parece interessada em nada do que se passa ali. O
olhar delas é vago, perdido, estão ali apenas compondo paisagem, elas não sabem
disso, provavelmente saíram de casa por pensarem que é uma espécie de obrigação
ter que sair, como se fosse um insulto á vida ficar em casa numa sexta a noite.
Me sinto ainda mais ridículo por saber que estou quase que na mesma situação.
Embora tenha “consciência”. Consigo me sentir ainda pior por constatar isso. Havia
lido um pouco de Bukwosky à tarde, talvez tenha sido essa a razão da fuga. Mas
na literatura há beleza. Os personagens dialogam, há enredo, há ritmo. Observo as pessoas e procuro algo de especial
em seus semblantes, seus gestos, roupas, falas, trejeitos, mas constato para
minha tristeza que são apenas pessoas normais como eu. Esperei que aparecesse
alguma figura exótica para me fazer companhia, como aquelas mulheres que saem
das historias do velho pervertido norte-americano. Ela se sentaria ao meu lado
e conversaríamos coisas da vida e tudo se encaixaria. Saí da literatura para os
filme de comédia romântica. Que patético. Podia ser apenas uma transa, mas as
pessoas são ainda muito hipócritas. À medida que a noite adentrava e as
cervejas aumentavam, minha embriagues tornava ainda mais visível que nada
aconteceria. Não que a vida seja sempre assim, mas esse hedonismo que nos
cerca, faz parecer tudo tão melancólico, é sempre a expectativa pelo extraordinário,
pelo fantasioso, quando na verdade é uma mesmice sem fim. Imagino que alguém
deve ter ganhado o “bilhete premiado” esta noite. Mesmo que ele tenha prazo de
validade. Pressinto uma certa tensão no ambiente. A música já parou e os bêbados
e bêbadas começam a se fazer mais audíveis. Verto o ultimo gole de cerveja,
pago a conta e começo a fazer o caminho inverso do desejo. Imagino meu quarto e
minha solidão amiga. Dou um sorriso pela ironia do final da noite e volto para
casa cantando
Baby, compra o jornal e
vem ver o sol
Ele continua a brilhar, apesar de tanta barbaridade
Baby escuta o galo cantar, a aurora dos nossos tempos
Não é hora de chorar, amanheceu o pensamento
O poeta está vivo, com seus moinhos de vento
A impulsionar a grande roda da história
Mas quem tem coragem de ouvir
Amanheceu o pensamento
Que vai mudar o mundo com seus moinhos de vento
Se você não pode ser forte, seja pelo menos humana
Quando o papa e seu rebanho chegar, não tenha pena
Todo mundo é parecido, quando sente dor
Mas nu e só ao meio dia, só quem está pronto pro amor
O poeta não morreu, foi ao inferno e voltou
Conheceu os jardins do Éden e nos contou
Mas quem tem coragem de ouvir
Amanheceu o pensamento
Que vai mudar o mundo com seus moinhos de vento
Mas quem tem coragem de ouvir
Amanheceu o pensamento
Que vai mudar o mundo com seus moinhos de vento
Ele continua a brilhar, apesar de tanta barbaridade
Baby escuta o galo cantar, a aurora dos nossos tempos
Não é hora de chorar, amanheceu o pensamento
O poeta está vivo, com seus moinhos de vento
A impulsionar a grande roda da história
Mas quem tem coragem de ouvir
Amanheceu o pensamento
Que vai mudar o mundo com seus moinhos de vento
Se você não pode ser forte, seja pelo menos humana
Quando o papa e seu rebanho chegar, não tenha pena
Todo mundo é parecido, quando sente dor
Mas nu e só ao meio dia, só quem está pronto pro amor
O poeta não morreu, foi ao inferno e voltou
Conheceu os jardins do Éden e nos contou
Mas quem tem coragem de ouvir
Amanheceu o pensamento
Que vai mudar o mundo com seus moinhos de vento
Mas quem tem coragem de ouvir
Amanheceu o pensamento
Que vai mudar o mundo com seus moinhos de vento